Mestre Sergio Santos yoga bh 2021

Alguns dos 108 tipos de Yôga

No Yôga, temos quatro grandes linhagens que são: Tantra-Sámkhya (Yôga Pré-Clássico – mais de 5.000 anos), Brahmácharya-Sámkhya (Yôga Clássico – século III a.C.), Brahmácharya-Vêdánta (Yôga Medieval – século VIII d.C.), e Tantra-Vêdánta (Yôga Contemporâneo – séculos XIX e XX). Cada linhagem possui uma fundamentação filosófica (Sámkhya ou Vêdánta) e uma fundamentação comportamental (Tantra ou Brahmácharya). Sámkhya e Vêdánta são filosoficamente opostos entre si, pois o Sámkhya é naturalista, enquanto que o Vêdánta é espiritualista. Tantra e Brahmácharya também são opostos entre si, pois o Tantra é matriarcal, sensorial e desrepressor, enquanto que o Brahmácharya é patriarcal, anti-sensorial e respressor. Por isso, não se devem misturar tipos de Yôga uns com os outros. Já os ramos, em número homologado de 108, são como fórmulas ou receitas, que determinam quais as técnicas empregadas por cada modalidade, e em que proporção.

ÁSANA YÔGA
Ásana significa técnica corporal ou psico-orgânica. Trata-se de um ramo dedicado exclusivamente à rela-ção entre o psiquismo e o funcionamento dos órgãos internos. Só utiliza um anga, ásana, no entanto, não tem nenhuma semelhança com ginástica, nem relação alguma com Ed. Física. Trata-se de uma das divisões mais ancestrais.

RÁJA YÔGA, o Yôga mental

Rája significa real (dos reis). Consiste em quatro partes ou angas: pratyáhára (abstração dos sentidos), dháraná (concentração mental), dhyána (meditação) e samádhi (hiperconsciência). Posteriormente, em torno do terceiro século antes de Cristo, a estas quatro técnicas foi acrescentada uma introdução constituída por outras quatro (yama, niyama, ásana, pránáyáma) com o que codificou-se o Yôga Clássico.

BHAKTI YÔGA, o Yôga devocional

Bhakti significa devoção. O Yôga devocional não é forçosamente espiritualista. Em suas origens pré-clássicas, sua fundamentação era naturalista e na região em que floresceu não foram encontradas evidências da existência de religiões institucionalizadas. O Bhakti Yôga pré-clássico consiste em cultuar as forças da Natureza, o Sol, a Lua, as Árvores, os Rios, etc.

KARMA YÔGA, o Yôga da ação desinteressada

Karma significa ação. É um Yôga que induz à ação. Sua vertente medieval passou a ter conotações da filosofia Vêdánta, o que lhe conferiu um ar de “ação desinteressada”, quando na verdade a proposta é impelir à ação, ao trabalho, à realização. Por certo, tal dinâmica em princípio não visa a benefícios pessoais, recom-pensas ou reconhecimento.

JÑÁNA YÔGA, o Yôga do autoconhecimento

Jñána significa conhecimento. O método dessa modalidade consiste em meditar na resposta que o seu psiquismo elaborar para a pergunta “quem sou eu?”, até que não haja mais nenhum elemento que possa ser separado do Self e analisado. Nesse ponto, o praticante terá encontrado a Mônada, ou o Ser.

LAYÁ YÔGA, o Yôga das paranormalidades
Layá significa dissolução. A intenção neste tipo de Yôga é dissolver a personalidade, ou seja, eliminar a barreira que existe entre o ego e o Self. Como o Self ou Mônada é o próprio Absoluto que habita em cada ser vivente, ao ser dissolvida a barreira da personam, todo o seu poder e sabedoria fluem diretamente para a consciência do praticante.

MANTRA YÔGA, domínio do som e do ultra-som

Mantra significa vocalização. Trata-se de um ramo de Yôga que pretende alcançar a meta através da ressonância transmitida aos centros de energia do próprio corpo, conduzindo-os a um pleno despertar. Como conseqüência, a consciência aumenta e o praticante atinge o samádhi.

TANTRA YÔGA, o Yôga da sensorialidade
Tantra significa, entre outros sentidos, a maneira correta de fazer qualquer coisa, autoridade, prosperidade, riqueza; encordoamento (de um instrumento musical). É a via do aprimoramento e evolução interior através do prazer. Ensina como relacionar-se consigo mesmo, com os outros seres humanos, família, animais, plantas, meio ambiente, enfim, tudo. Também trata de tudo o que se refira à sensorialidade. Pretende atingir a meta mediante o reforço e canalização da libido. Tantra Yôga enfatiza o trabalho sobre a kundaliní, contudo, existe uma outra modalidade especializada no despertamento dessa força colossal: é o Kundaliní Yôga, que descreveremos mais para frente.

SWÁSTHYA YÔGA, o Yôga de raízes pré-clássicas, que compreende todos os oito anteriores
SwáSthya significa auto-suficiência, saúde, bem-estar, conforto, satisfação. É baseado em raízes muito antigas (Tantra-Sámkhya) e por isso é tão completo, pois possui o gérmen do que, séculos mais tarde, deu origem aos oito ramos mais antigos (Ásana Yôga, Rája Yôga, Bhakti Yôga, Karma Yôga, Jñána Yôga, Layá Yôga, Mantra Yôga e Tantra Yôga). Sua prática consiste em oito feixes de técnicas, que são: mudrá (linguagem gestual), pújá (sintonização com o arquétipo), mantra (vocalização de sons e ultra-sons), pránáyáma (respiratórios), kriyá (purificação das mucosas), ásana (técnica corporal), yôganidrá (técnica de descontração) e samyama (concentração, meditação e outras técnicas mais profundas). Trata-se da sistematização do Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga, um proto-Yôga integrado de origens dravídicas com mais de 5.000 anos. 

SUDDHA RÁJA YÔGA, uma variedade de Rája Yôga medieval, pesadamente místico
Suddha significa puro. Consiste em mantras e meditação. Aqui no Brasil, sofreu influência do Cristianismo e passou a ser exercido como um híbrido de religião cristã. Atualmente é difícil de ser encontrado no Brasil.

KUNDALINÍ YÔGA,  o Yôga do poder
Kundaliní significa aquela que tem a aparência de uma serpente. É um tipo de Yôga que visa ao desperta-mento da energia que leva o seu nome (kundaliní). Essa energia está situada no períneo e tem relação direta com a sexualidade. Seu despertamento e ascensão pela medula espinhal até o cérebro produz uma constelação de paranormalidades, culminando num estado alterado da consciência denominado samádhi, que é a meta do Yôga. Na verdade, não apenas esta modalidade, mas todos os tipos autênticos de Yôga trabalham o despertamento da kundaliní, conforme nos diz o Dr. Sivánanda em seu livro Kundaliní Yôga, página 70. Nos Estados Unidos floresceu uma vertente de Kundaliní Yôga, transmitido por adeptos sikhs.

SIDDHA YÔGA, o Yôga da reverência ao guru
Siddha significa o perfeito, ou aquele que possui os siddhis (poderes paranormais). Pelo nome, dá a enten-der que tem parentesco com o Kundaliní Yôga, mas com o qual manifesta pouca similaridade. Pratica-se muito mantra, pújá e meditação, mas a base é mesmo a reverência à personalidade do guru. No Brasil, havia um pequeno grupo de Siddha Yôga no Rio de Janeiro, mas atualmente não se sabe se está ativo.

KRIYÁ YÔGA, o Yôga que consiste em auto-superação, auto-estudo e auto-entrega
Kriyá significa atividade. Trata-se de um Yôga muito difundido nos Estados Unidos na década de 50. Con-siste em três niyamas (normas éticas): tapas (auto-superação), swadhyáya (auto-estudo) e íshwara pranidhana (auto-entrega). É citado no Yôga Sútra, livro do século III a.C. Há poucas entidades que o representam no Brasil, sendo a Bahia e o Rio de Janeiro seus principais redutos. A maioria o estuda por livros. O melhor livro é o Tantra Yôga, Náda Yôga e Kriyá Yôga, de Sivánanda, Editorial Kier, Buenos Aires. Essa é a única obra que ensina abertamente o Kriyá Yôga, sem fazer mistério.

YÔGA INTEGRAL, o Yôga de integração nas atividades do dia-a-dia
É chamado Yôga Integral não por ser mais integral que os outros, como o nome pode sugerir por associações com os alimentos integrais. Denomina-se assim porque sua proposta é integrar-se na vida profissional, cultural e artística do praticante. Foi criado por Sri Aurobindo, que defendia o desejo de que “o Yôga cesse de parecer alguma coisa mística e anormal que não tenha relações com os processos comuns da energia terrena”.

YÔGA CLÁSSICO, um Yôga árido e duro, com restrições sexuais e outras
O Yôga Clássico – ou Ashtánga Yôga – não é o Yôga mais antigo nem o mais completo, como algumas pes-soas divulgam. O mais antigo e completo é o Pré-Clássico. O Yôga Clássico tem um nome forte, mas sua prática é inviável para o homem moderno devido à lentidão com que seus passos são trilhados. A prática é tão restritiva e árida que ninguém pagaria para receber esse tipo de aprendizado. Por isso, o que se vê no Ocidente são escolas que exploram o célebre nome desse ramo, mas na prática ensinam Hatha Yôga. O Yôga Clássico é constituído por oito partes ou angas que são: yama, niyama, ásana, pránáyáma, pratyáhára, dháraná, dhyána, samádhi. No Brasil, o melhor livro é o Yôga Sútra de Pátañjali, da Editora Nobel.

HATHA YÔGA, o Yôga físico
Hatha significa força, violência, e não o poético “Sol-Lua”, como declaram alguns livros. Trata-se de uma vertente medieval, fundada no século XI da era Cristã, portanto, é considerado um Yôga moderno, surgido mais de 4.000 anos depois da origem do Yôga primitivo! É constituído pelos quatro angas iniciais do Ashtánga Yôga (yama, niyama, ásana, pránáyáma), contudo, nos estabelecimentos de Yoga os dois primeiros angas não são ensinados, ficando na prática restrito apenas a ásana (técnicas corporais) e pránáyáma (respiratórios). Outras técnicas podem ser agregadas, tais como bandhas, mudrás e kriyás, mas não forçosamente. A meditação não faz parte e não deve ser incluída numa prática de Hatha. Já foi o Yôga mais popular no Ocidente. O melhor livro já publicado em português sobre o tema foi Hatha Yóga, ciência da saúde perfeita, de Caio Miranda.

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