Samyama
Concentração, Meditação e Hiperconsciência
É claro que nós cientistas usamos a intuição.
Conhecemos a resposta antes de ir checá-la.
Linus Pauling,
Prêmio Novel de Química
Meditação é uma palavra inconveniente para definir a prática chamada dhyána em sânscrito, já que essa técnica consiste em parar de pensar a a fim de permitir que a consciência se expresse através de um canal mais sutil, que está acima da mente, mas o dicionário define meditar como pensar, refletir.
Na verdade, o termo dhyána pode ser usado tanto para designar o exercício de meditação, quanto o estado de consciência obtido com essa prática. Ela consiste em concentrar-se e não pensar em nada, não analisar o objeto da concentração, mas simplesmente pousar a mente nele até que ela se infiltre no objeto. “Quando o observador, o objeto observado e o ato da observação se fundem numa só coisa, isso é meditação”, dizem os Shástras.
O estado de consciência que os britânicos do século XVIII arbitraram chamar de meditation é, na verdade, um tipo de intuição, ou seja, o mecanismo que possuímos para veicular a consciência, o qual está localizado acima do organismo mental. Intuição, todos já tivemos uma manifestação desse fenômeno, alguns mais outros menos. A intuição comum é como o flash de uma câmera fotográfica, só que não tem dimensão em termos de tempo. E um insight. Mas, sob treinamento, é possível desenvolver uma outra forma de intuição que se manifesta como um flash de uma filmadora, que acende e permanece aceso por um átimo. Chamamos a esse fenômeno intuição linear, quando conseguimos manter a intuição fluindo voluntariamente por um segundo inteiro –ou mais. Essa é a definição perfeita para o termo sânscrito dhyána.
OS TRÊS GRAUS DE MEDITAÇÃO
Existem basicamente três graus ou métodos de meditação: yantra dhyána, mantra dhyána e tantra dhyána.
- O exercício de primeiro grau visando à meditação é o yantra dhyána, que consiste em concentrar-se (aplicar dháraná) na visualização de símbolos ou imagens, até que a mente se sature e os vrittis cessem. Daí advém a estabilidade a consciência, pois desaparecem os fatores de turbulência. Os yantras podem ser: um forma geométrica, uma flor, a chama de uma vela ou tocha, o sol, a lua, uma estrela, o ÔM, etc. Mas só será efetivo se o exercício for feito sempre com um mesmo yantra. Os demais você pode experimentar nos primeiros dias para descobrir qual é o que lhe proporciona melhor concentração. Você deve pousar a sua mente no objeto da concentração, sem analisá-lo. Deixar que a sua mente seja absorvida pelo objeto até que o observador, o objeto observado e o ato da observação, passem a ser um só.
- O exercício de segundo grau visando à meditação é o mantra dhyána, que consiste em concentrar-se (aplicar dháraná) no som de um mantra sânscrito. Só pode ser sânscrito para evitar o nefasto choque de egégoras. Alguns Mestres admitem que possa ser utilizado eventualmente algum outro idioma hindu, desde que em pequena proporção. Não é necessário usar um mantra individual. O mantra ÔM é o márika mantra, ou mantra mater, que deu origem a todos os demais. O ÔM deve ser repetido em pensamento, ritmicamente, a curtos intervalos, produzindo o efeito “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
- O exercício de terceiro grau visando à meditação é o tantra dhyána, que é Gupta vidya e só pode ser ensinado mediante iniciação. Denomina-se tantra dhyána, não porque tenha algo a ver com a filosofia tântrica, mas pelo significado da palavra (net, teia). Você já viu uma teia na floresta, incrustada de gotículas de orvalho, qual diamantes, reluzindo os raios de sol? Parece algo sólido. Mas se a tocarmos ela desaparece instantaneamente. Isso faz alusão à sutileza do método de terceiro grau, assim como ao próprio Tantra, que é uma tradição secreta.
O interessante é que você pode alcançar a meditação profunda através de qualquer um desses graus. Uma vez obtida a parada dos vrittis, o resultado é sempre o mesmo, não importando o grau ou método usado. Importante é permanecer muito tempo em cada grau.