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Os efeitos da meditação no cérebro

Danilo Luna Campos, Alexandre Hiroaki Kihara, Vera Paschon

Laboratório de Neurogenética / Núcleo de Cognição e Sistemas Complexos / Centro de Matemática, Computação e Cognição / Universidade Federal do ABC

Vol. 1, N. 13, 24 de Junho de 2014
DOI: http://dx.doi.org/10.15729/nanocellnews.2014.06.24.005

A meditação é uma prática milenar que é realizada por milhões de pessoas em diversas culturas no mundo. Na atualidade, ela é idealizada como um modo de reduzir o estresse e a ansiedade do dia a dia ocupado e cheio de tarefas a que a grande maioria das pessoas é submetida.

Porém, muitos céticos não acreditam que a meditação pode produzir esses benefícios, por esse motivo, cientistas do mundo inteiro buscam entender se a meditação realmente é capaz de criar efeitos no cérebro que resultariam em mentes mais calmas e saudáveis no cotidiano.

Equipes de pesquisadores das Universidades da Noruega, Oslo e Sidney tentaram entender quais seriam as alterações no cérebro causadas por diferentes formas de meditação, entre elas: Zen, Acem, Chakra, Budista e Meditação Transcendental. Para esse estudo, essas formas de meditação foram divididas em dois grandes grupos: atenção focada, prática baseada na concentração da atenção sobre um determinado objeto externo, corporal ou mental, ignorando todos os estímulos irrelevantes; e monitorização aberta, técnica que tenta ampliar o foco de atenção a todas as sensações recebidas, emoções e pensamentos de momento a momento sem focar em qualquer um deles.

Para esse experimento, foram necessários 14 participantes que já tinham experiência em meditações dos dois tipos. Eles tiveram tempo para meditar em ambas as formas enquanto eram analisados por imagens de ressonância magnética (Figura 1). Com a observação das imagens encontradas, percebeu-se que na forma atenção focada os cérebros dos participantes se comportaram como se estivessem simplesmente em uma atividade relaxante, entretanto, no caso da forma monitorização aberta, houve um aumento da atividade cerebral na região do córtex medial pré-frontal, local responsável por pensamentos interiores sobre fatos e sentimentos que costuma ser ativado quando pensamos sobre o futuro ou relações afetivas. Sendo assim, foi confirmado que existem diferentes rendimentos para as meditações. Surpreendentemente, a atividade cerebral ficou mais forte quando as pessoas usaram a meditação de monitorização aberta e deixaram a mente vaguear livremente em si própria do que quando o cérebro estava trabalhando para ser fortemente focado.

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Figura 1: Mudanças no cérebro após meditação podem ser vistas por ressonância magnética, atividade normal (esquerda) e durante a meditação (direita). As cores mais quentes, amarelo, vermelho, representam maior atividade cerebral.

Será que o estresse pode ser combatido pela meditação? Um cientista da computação da Universidade de Washington se juntou com um neurocientista da Universidade do Arizona para refletir e responder a essa pergunta. Eles fizeram uma experiência com 45 pessoas divididas em 3 grupos de 15. Cada grupo passou 8 semanas com uma tarefa para colocar na rotina: um grupo teve que fazer meditação, outro grupo teve treinamentos de relaxamento corpóreo e o terceiro grupo não teve alteração na rotina (é o grupo controle). Os 3 grupos foram submetidos a multitarefas estressantes antes e depois das 8 semanas. Porém, os participantes que meditaram apresentaram um menor nível de estresse ao realizar as multitarefas após as 8 semanas com a mudança na rotina.

Outras pesquisas tem tentado perceber efeitos mais contínuos da meditação no cérebro. Pesquisadores da Universidade da Califórnia (UCLA para a sigla em inglês, University of California, Los Angeles) resolveram comparar, através da ressonância magnética, os cérebros de 50 pessoas que meditam há mais de 2 anos com os de 50 pessoas que nunca meditaram, 100 participantes foram estudados ao todo. Os neurocientistas perceberam que pessoas que tem o hábito de meditar apresentam um elevado nível de girificação ou dobragem cortical (processo pelo qual a superfície do cérebro – o chamado córtex cerebral, onde são formados os pensamentos – sofre alterações para criar fendas estreitas e dobras, chamadas sulcos e giros. Estes sulcos e giros aumentam a superfície cerebral, consequentemente aumentando a massa cerebral) (Figura 2). O córtex cerebral está associado com processos como memória, atenção, pensamento e consciência. A formação de mais sulcos e giros otimizam o processamento neural [1].

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Figura 2: Análise da girificação do córtex (direita) baseado no córtex normal (esquerda) e na versão sem dobras (meio). O córtex cerebral está associado com processos como memória, atenção, pensamento e consciência. A formação de mais sulcos e giros otimizam o processamento neural

De uma maneira bastante simplificada, o resultado da maior girificação é que o cérebro possivelmente se torna capaz  de processar informações mais rapidamente, além de um reforço na formação das memórias e melhoria na capacidade de tomar decisões. Assim, os resultados relatados poderiam indicar que a meditação pode alterar o funcionamento do cérebro, de modo que ele passa a entender com maior facilidade as informações que recebe, resultando em uma vida com menos ansiedade e estresse, pois o indivíduo passa a distinguir de forma mais eficiente o que realmente é perigoso para si, quais sentimentos fazem sentido e como tomar atitudes racionais. Além disso, os neurocientistas da UCLA perceberam que os benefícios e as alterações no cérebro são proporcionais ao tempo de meditação, existindo uma correlação direta entre o índice de girificação e o número de anos que as pessoas praticam meditação [1].

A criatividade é uma qualidade própria de cada indivíduo ou pode ser desenvolvida ao longo da vida?Pesquisadores da Universidade Leiden, na Holanda, relacionaram essa virtude com a meditação e têm chegado a conclusões interessantes. Eles observaram a resposta de dezenove adultos saudáveis (13 mulheres e 6 homens) a questões que avaliaram a capacidade de ter novas ideias e a capacidade de achar soluções para problemas. Os voluntários foram divididos para fazer a meditação do tipo atenção focada e monitorização aberta. Percebeu-se no fim do teste que a atenção focada não revelou melhores resultados nas duas tarefas de criatividade de quem a fez. Entretanto, os participantes que utilizaram o segundo tipo de meditação renderam melhor na criação de novas ideias [2].

Com esses estudos, ficou claro que a meditação é capaz de realizar variadas alterações no cérebro e essas mudanças podem resultar em mais saúde, boas reflexões, menos estresse, menos ansiedade, resumindo, uma melhor qualidade de vida. Dessa forma, seria bom que cada um de nós reservasse um tempo para fazer essa atividade e enriquecer a nossa mente. Alguns pesquisadores acreditam que 10 minutos de meditação por dia são suficientes para conseguir boa parte desses benefícios.

Referência bibliográfica:

1. Luders, E., et al., The unique brain anatomy of meditation practitioners: alterations in cortical gyrification.Front Hum Neurosci, 2012. 6: p. 34.

2. Colzato, L S, et al., Meditate to create: the impact of focused-attention and open-monitoring training on convergent and divergent thinking.Front Psychology, 2012. 3: p. 3-5.