SISTEMA ALIMENTAR DO YÔGA
Texto extraído do livro Alimentação Vegetariana: chega de abobrinha!, do Mestre DeRose.
De como éramos frugivoristas e de como deixamos de sê-lo
Fator número um
No início da nossa evolução em direção ao que viria a se denominar homo sapiens, nós éramos vegetarianos. Vivíamos nas árvores e alimentávamo-nos de frutas e folhas, como ainda o fazem atualmente muitos dos nossos parentes primatas. Para comer, não precisávamos trabalhar. Aliás, morávamos dentro de uma salada! Além disso, a vida era só comer, brincar, transar, dormir, acordar, estender o braço e alcançar a refeição. Noutras palavras, estávamos no paraíso.
Na verdade, a Bíblia refere-se de forma inequívoca a esse Éden (genesis, cap. II, versículos 15, 16 e 17). Fôramos postos num jardim pleno de árvores frutíferas e podíamos comer de todas elas, menos de uma, a da Noção do Bem e do Mal. Comendo desta, ficaríamos impedidos de comer os frutos da Árvore da Vida.
Fator número dois
Tudo ia muito bem até que um belo dia fomos explusos do paraíso por um incidente climático no qual as árvores escassearam-se. Assim, tivemos que descer para o chão. (Como este livro não pretende dissertar sobre antropologia, precisamos contentar-nos com esta história resumida.). Acontece que nós éramos animais arborícolas e não terrícolas. No chão, nossas pernas não serviam para grande coisa. De fato, até hoje, milhões de anos depois, continuamos incompetentes quanto ao caminhar sobre o solo. Levamos mais de doze meses para aprender a andar, quando qualquer herbívoro irracional nasce, põe-se de pé e corre com apenas algum horas de nascido. Duas décadas depois, continuamos tropeçando e caindo por tudo e por nada. Temos músculos enormes nas pernas e coxas, que nos ocupam uma considerável quantidade de sangue e energia, mas qualquer animalzinho dez vezes menor corre mais do que nós.
Perdendo nosso habitat nas árvores e sem ter capacidade para correr no solo, ficamos à mercê dos predadores. Passamos a refugiar-nos nas cavernas. Imagine o trauma dessa espécie que estava acostumada a uma vida lúdica e sem preocupações, saltando e brincando por entre os ramos verdejantes, o céu azul e os raios do sol, ser obrigada, quase que repentinamente, a viver no escuro e com medo dos predadores. Não foi à toa que o ser humano associou essas duas coisas e, para ele, a escuridão passou a ser sinônimo de medo.
Não havendo mais tantos vegetais sobre a Terra, nossos ancestrais foram compelidos a mudar sua dieta. Passaram a comer o que houvesse. Tornaram-se coletores, catando uma castanha aqui, uma raiz ali e uma lesma acolá. Com fome, come-se qualquer coisa. O desespero da fome e de faltar alimento para a prole arraigou-se no nosso psiquismo de forma tão atroz que desenvolveu uma síndrome que carregamos até hoje e à qual denomino “síndrome do supermercado”. Ela nos impele a ir coletando nas prateleiras mesmo aquilo de que não necessitamos, a fim de levar para nossa toca, afinal, “pode vir a ser necessário”.
Fator número três
Se nossas pernas são incompetentes, em compensação nossas mãos são únicas. Desenvolvemos a habilidade de segurar, pois, ao nascer, o filhote precisava contar com o instinto de se segurar nos ramos da árvore e nos pelos da mãe, caso contrário despencaria lá de cima. Até hoje nossos recém-nascidos conservam esse reflexo, pegando fortemente os dedos dos pais ou uma vareta que lhe serja postas nas mãos. Podemos mesmo levantar o bebê pela vareta, pois ele não a soltará e não cairá. (Não tente fazer esse teste em casa. Peça ao seu pediatra que o demonstre, se ele achar seguro.).
Na verdade, nós não evoluímos como espécie graças ao desenvolvimento do cérebro e sim graças à oposição do polegar. Este permitiu que agarrássemos os objetos por puro instinto. Com isso, mais tarde iríamos tornar-nos homo instrumentalis, pouco diferentes dos símios que também usam instrumentos. A partir de então, teria ocorrido uma demanda neurológica que exigiu do cérebro o seu aprimoramento. Mas, antes disso…
Juntando os três fatores
Juntando os três fatores acima, o que nós temos é o seguinte panorama: um pithecus faminto, acocorado; um galho seco caído no chão ao seu lado; e um almoço passando correndo. Quantas vezes essa cena deve ter-se repetido ao longo de, digamos, cem mil anos? Numa dessas incontáveis vezes, por mero instinto de agarrar, o pithecus segurou o galho seco e usou-o como instrumento. Descobriu, surpreso, que aquilo ampliara sua força, multiplicara sua velocidade e alcançara mais longe, aonde os braços não chegavam. Pronto. O almoço estava espatifado e tinha-se inaugurado uma nova era: a do carnivorismo.
Carnivorismo
Agora, usando pedaços de pau, o primata bípede a caminho da evolução passou a abater pequenas presas, com as quais alimentou sua família. A partir de então, foi rápido deduzir que, se amarrasse uma pedra na extemidade do pau, ele poderia abater animais maiores. Necessitamos apenas de algo como 50.000 anos. Bem, nós somos assim até hoje. Para mudar um paradigma precisamos esperar que morram todos e mais algumas gerações. Contudo, um dia lá estávamos nós com machados e lanças de pedra lascada. (Fico imaginando que os primeiros a utilizar ferramentas e armas de pedra lascada devem ter sido hostilizados e anatematizados pelos demais, da mesma forma como foram perseguidos todos os humanos que estiveram à frente do seu tempo.). Começara a destruição em massa da fauna e da flora. Nada mais deteria essa praga chamada bicho homem na sua investida contra a natureza.
A prática da caça estimulou algumas tribos a migrar atrás das manadas e, assim, muitos humanos tornaram-se nômades e exploradores. Com isso, essa bactéria planetária espalhou-se por todo o globo.
No entanto, nós não fomos projetados para comer carnes. Animais vegetarianos quando comem carnes adoecem mais e morrem mais cedo. Não dispomos de sucos gásticos nem intestinos para processar carne. A maior demonstração de que não nascemos para caçar é a a nossa virtual falta de ferramentas naturais para abater outro anuimal. Não temos garras, nem presas, nem veneno, nada.
Experiência científica
Há uma experiência muito convincente que costumo fazer em sala de aula e você pode reproduzi-la na sua casa. Material necessário: um ser humano e uma vaca. Coloque o ser humano diante da vaca. Peça que o ser humano mate a vaca com os recursos que a natureza lhe dotou, ou seja, sua força, mãos, seus dentes, etc. O ser humano vai tentar por todos os meios, vai querer estrangular a vaca, vai dar socos na vaca e não vai conseguir matá-la. Talvez consiga aborrecê-la e acabe levando uma chifrada. Fim da experiência científica. Conclusão: o ser humano não foi projetado para caçar. Além do mais, na natureza ele nem conseguiria se aproximar o suficiente para agarrar o bicho, pois também fomos privados da velocidade que o predador necessita.
Constatação da validade da experiência acima
O ser humano contrapõe que ele é um animal inteligente. Como tal, teve condições de fabricar ferramentas e, com elas, caçar. Já não é lá muito verdadeira essa afirmação, pois estamos tentando provar que por natureza não fomos dotados dessas ferrametas, mas vamos aceitar a contestação e refutá-la com outra demonstração.
Impugnação da contestação
Desta feita, entregamos uma ferramenta de abate – uma faca – e solicitamos que o sujet mate a vaca na nossa frente para provar que, com instrumentos, a experiência anterior ficaria invalidada. Mas, então, o que é que verificamos estupefatos? Noventa e nove por cento dos humanos não tem coragem de enfiar a faca na jugular do bovino! Seria prova suficiente de que não somos predadores naturais? Pelo sim, pelo não, vamos além. Tomo a faca da mão daquele specimen covarde. “Se você não tem coragem, mato eu a vaca.” Introduzo a lâmina na garganta da desditada. O sangue jorra. E o ser humano… Onde está ele? Ah! Lá está, no canto, vomitando!
Se fosse carnívoro, o simples cheiro do sangue ou a sua visão, já daria água na boca. Mas, se ele não é capaz de matar e ainda lhe embrulha o estômago se outro mata. Isso demonstra claramente que nossos instintos são bem diferentes. Aquele reflexo de “pôr para fora” é exatamente o oposto da reação de comer. Talvez não sejamos carnívoros. Quem sabe, somos carniceiros?
Carniceirismo
Há um sub-ramo denominado carniceirismo, ainda mais prejudicial que o carnivorismo. O carnívoro é o animal que mata a própria presa e a devora com o sangue ainda quente. O carniceiro é o animal que não tem capacidade ou coragem de matar a própria presa. Espera que outro a mate e devora-a mais tarde, com o sangue já frio.
Exemplos de carnívoros: leão, leopardo, onça, tigre, etc. Exemplos de carniceiros: abutre, urubu, hiena… É, parece que estamos em má companhia. Afinal, os seres humanos não matam a própria presa e a devoram com o sangue já frio. Com uma diferença. Os abutres, os urubus e as hienas devoram as carnes em início de putrefação, com algumas horas do animal morto. Os humanos comem as carnes com meses ou anos de estocagem da carne nos frigoríficos. Quando ela é retirada para consumo está verde. Torna-se necessário, então, revitalizá-la com nitratos, nitritos e salitre, que devolve a coloração avermelhada. Os dois primeiros são conhecidos cancerígenos. Já o salitre é célebre pelo seu uso em colégios internos, mosteiros e quartéis, pela sua capacidade de reduzir o estímulo sexual.
O grande problema com esse tipo de alimentação é que não fomos projetados para digerir carnes. Há diferenças estruturais intransponíveis entre o animal projetado para comer carne e o projetado para comer vegetais.
A doença da vaca louca, que espalhou pânico na Europa no final do século XX, foi gerada pelos criadores de gado ao adotar uma ração para bovinos feita com resto de carnes e ossos. Tais detritos impróprios para o consumo de herbívoros foram processados quimicamente para adquirir cheiro e gosto que os animais não rejeitassem. O resultado foi uma doença degenerativa do sistema nervoso dos animais que, obviamente, contaminava os seres humanos.
Este é um grave inconveniente da ingestão de animais mortos. As doenças de animais são transmissíveis aos seres humanos. Isso tmbém ocorre com a pneumonia asiática, contraída pela ingestão de aves, a qual devastou aldeias inteiras na China e fez vítimas no mundo todo; depois, outra doença, a gripe do frango, espalhou-se pelo planeta matando por toda parte.
Quanto às mutações, há um documentário denominado Animals are beautiful people (traduzido como Os animais também são seres humanos) de Jamie Uys, África do Sul, que, apesar da sua linguagem despretensiosa, tem um relevante valor cintífico. Ele mostra uma espécie de cegonha que cambiou sua dieta, passando a ser carniceira, e sofreu uma horrenda mutação que a fgez assemelhar-se a um autre.
Por outro lado, um documentário da Discovery mostrou o caso oposto. Dessa feita tratava-se de certo tipo de abutre que trocou o sistema alimentar e deixou de comer carniças, passando a nutrir-se do fruto da palmeira. Também essa espécie sofreu uma mutação, só que para melhor. Deixou de ter a aparência de abutre e passou a contar com uma plumagem muito mais linda.
Todos esses precedentes nos fazem questionar: nossa espécie deve ser muito feia. Desde que trocamos o frugivorismo pelo carniceirismo, certamente passamos por uma terrível mutação. Por exemplo, somos um animal estranho, com uns poucos tufos de pêlo, aqui e ali, e o restante do corpo pelado. Imagine se você fosse adquirir um animal de estimação e lhe oferecessem um cachorro que não tivesse pêlos, a não ser um tufo entre as pernas, outros sob as axilas e um pouco na cabeça, sendo que esse não parasse mais de crescer? Devemos ser muito feios como espécie. Só não percebemos isso porque nascemos num meio ambiente em que todos os demais também são horripilantes. Mas o nosso cãozinho deve perceber que há algo estranho com aquele dono que não tem uma linda pelagem no corpo. Se pensasse, com certeza diria: “Como meu dono é feio! Mas é tão bonzinho, me dá comida, me faz carinho, fala comigo feito um retardado mental…”
Temos um outro exemplo que nos sugere ter ocorrido alguma grave mutação na nossa espécie. Somos o único tipo de animal que mata qualquer coisa que se mova, pelo simples prazer de matar. A designação elegante que se dá a isso é caça. Caça à raposa, caça ao coelho, caça ao tigre, tiro ao Pombo, ao pato, à codorna, e por aí vai. Mas não matamos apenas na caça esportiva. Se um inseto se atrever a mover-se perto de nós, será impiedosamnente esmagado. Crianças matam passarinhos instintivamente com suas pedradas e estilingadas. Nada pode ficar vivo nas proximidades de um homo “sapiens”.
O fato é que comer defunto não é para pessoas sensíveis. Se pensarmos no que estamos fazendo, paramos imediatamente de devorar cadáveres de bichos mortos. Urge que nosso estômago deixe de ser um cemitério.
Omnivorismo
Omnivorismo não é comer mantra (ÔM). É comer tudo (omni). A passagem do carnivorismo para o omnivorismo processou-se por observação de muitos clãs, de que os que inseriam vegetais na alimentação tinham mais vitalidade, viviam mais tempo e possuíam pelos mais bonitos. Ninguém precisa ser cientista para perceber isso. Basta observar sua descendência.
Passei por uma experiência interessante que me demonstrou como o caipira tem essa percepção. Em 1976 o prefeito da cidade de Santo Antônio do Pinhal, no caminho para Campos do Jordão, doou-nos uma montanha. Ingênuos, aceitamos aquele elefante branco. Na época, não tínhamos verba nem para custear o combustível dos automóveis, quanto mais para construir o acesso e edificar nosso retiro! Acabamos perdendo a montanha. Mas ao chegar lá, cheios de ilusões, fomos conversar com um antigo morador, um senhor bem humilde. Ele teve a gentileza de recomendar que bebêssemos de uma determinada fonte e não de uma outra, pois sua água não era boa. Perguntei-lhe se havia mandado analisar a água. Ele me disse que não precisava. Quando seus filhos bebiam daquela, ficavam doentes.
Da mesma forma, e com aquela agilidade que nos caracteriza, em alguns milênios a maior parte da humanidade percebeu que a carne é um veneno para a nossa espécie e melhorou o sistema alimentar, acrescentando outros alimentos. Passou a comer de tudo.
Se, por um lado, isso constituía um aperfeiçoamento, já que nossos antepassados passavam a ingerir menos carnes, esse sistema ainda não era ideal. A mistura de alimentos produz fermentação, a qual gera odor nauseabundo. Experimente colocar num saco plástico um pouco de tudo o que você ingerir na próxima refeição. Acrescente um cálice de ácido gástirico (se não tiver, esprema um limão). Em seguida, coloque por meia hora num forno a 36 graus centígrados, a temperatura do seu corpo. Depois, abra e cheire.
Isso é o que está acontecendo lá dentro do seu tubo digestivo. Mas, para onde vai esse odor? Pensou que ele se evaporasse por obra e graça do Espírito Santo? Nada disso. Ele sai pelo seu hálito, pelos seus poros, pela sua transpiração, pelas suas axilas. Encare a realidade: você fede! Os animais onívoros cheiram mal. Compare: o cheiro do porco, o do bode. Ah! Esqueci: você também come porco.
Todos os animais se identificam pelo cheiro. Dois animais se encontram e cheiram-se, até para saber se são da mesma espécie. Se for macho e fêmea conferem os cheiros a fim de ver se a química combina. No entanto, o ser humano não reconhece como da sua espécie o cheiro que exala. Façamos o teste. Animais não tomam banho. Agarremos um sapiens e deixemo-lo sem banho por, digamos, um mês. Depois, ofereçamo-lo para trocar umas carícias com outro, de sexo oposto, da sua espécie. Como sera que você reagiria se fosse escolhido para participar dessa experiência, fosse como o sem-banho, fosse como o que depois teria de olfatá-lo?
Isso explica porque o ser humano não apenas toma banho com muita freqüência (em alguns países, todos os dias!) mas também esfrega, todas as vezes, soda cáustica no corpo. Sim, pois esse é um dos componentes dos sabonetes. Não satisfeito com o banho e esfregadura com bastão de soda cáustica, esse pobre mamífero ainda toma o cuidado de passar sob os braços e nos pés uma substância que tem a função de inibir odores, um tal de desodorante. Mas isso não basta. É preciso mascarar algum cheiro que, apesar de todos esses cuidados, possar aparecer. Então, o desnaturado animal acrescenta no seu corpo perfumes de outras espécies de animais (boi almiscarado, âmbar do cachalote, civete do gato selvagem) ou de árvores (sândalo, cipreste) ou de erva (vetiver) ou de flores (rosa, jasmim, etc.). Qualquer coisa serve, desde que não seja denunciado o cheiro que ninguém identifica como sendo da nossa espécie.
Foi o cheiro do homem branco que salvou os índios da extinção e levou-os a sustentar uma guerra de 500 anos. Pense bem. Como é que silvícolas nus, que não coheciam o aço e nem a pólvora, puderam sobreviver e lutar durante séculos com os conquistadores que tinham à sua disposição equipamento military e a arte da Guerra? Vou lhe dizer como foi que os aborígenes sobreviveram. Quando você passsa uns dias na fazenda ou acmpado no meio do mato e, depois, volta para a cidade seu olfato fica bem mais sensível e costuma se incomodae muito com os maus olores. Você é um urbanóide e passou apenas alguns dias no campo ou na serra, mas já ficou mais sensível. Agora, imagine um indígena que nasceu e viveu na floresta toda a sua vida. Ele consegue sentir o cheiro de cada flor, árvore, inseto, animal ou réptil a uma boa distância. Pois bem. Como será que cheiravam os conquistadores portugueses e espanhóis dos séculos XVI e XVII, que comiam todas aquelas porcarias, bebiam vinho e suavam feito uns suínos, caminhando durante dias e meses no calor tropical, na floresta úmida, sob aquelas roupas, armaduras e botas de bandeirante? Uma curiosidade: quando iam defecar no mato, dispunham de papel higiênico? Acrescente-se que não se usava tomar banho. Era pecado. Acredite se quiser, até o século XX, aqui mesmo no Novo Mundo, em escolas religiosas as alunas internas eram obigadas a tomar banho de camisola, para atenuar a iniqüidade.
Concluindo esta longa exposição: quando o colonizador ainda estava a quilômetros de distância os índios, com seu olfato hiper-sensível, percebiam sua aproximação.
O ameríndio sentia um cheirinho putribundo no ar e perguntava para o outro:
- Curumim, foi você?
E o curumin respondia:
- Mim, não.
Então, era homem branco que estava a algumas léguas, vindo na direção do vento.
Mandavam as mulheres fugir com as crianças e armavam ciladas, muito bem escondidos numa floresta que conheciam como a palma de suas mãos. Era guerra de guerrilha. Emboscavam (alias, emboscar, provém, etimologicamente, de bosque, floresta), e fugiam. Foi assim que, graças ao fedor do homem branco, os selvagens salvaram-se e conseguiram sustentar uma guerra de cinco séculos, usando arco e flecha contra aço e pólvora. Pode-se dizer que venceram, pois sobreviveram.
Conclusão: o omnivorismo não é ideal.
Cerealismo
Migrando por melhores campos de caça, o ser humano acabou se espalhando por todo o globo, inclusive colonizando territórios agrestes e insalubres como a Europa, em que a variação de temperatura só deixou vivos os mais fortes. Em váarias cidades européias, no verão a temperatura pode ultrapassar os 30o C e no inverno neva. Sob a neve, é difícil conseguir alimentos. A melhor solução era estocar para o inverno, e o alimento ideal para ser estocado é o cereal. Em determinadas regiões implantou-se um novo sistema alimentar, o cerealismo. O cerealismo por si só, como sistema definitivo, não é muito atraente. Mas ainda iria piorar muito com um modismo que assolou o mundo a partir de 1960.
No século XX um japonês, vivendo em Paris, codificou um novo sistema surrealista, digo cerealista, radical, ipocêntrico. Era a macrobiótica. Alguns dos seus princípios eram;
. Não beber água, jamais. Chá, só quente, sem açúcar, e apenas umas ou duas xícaras por dia.
. Frutas estavam proibidas. Eram “muito yin”.
. Batata era considerada veneno. Quem comesse morreria.
. Em compensação deveríamos adotar shoyu, missô, tofu, algas marinhas e arroz na tigelinha. Ou seja, o mundo deveria converter-se aos gostos culinários japoneses.
. Praticamente tudo o que fosse ingerido deveria ser cozido, com exceção de um temperinho verde, usado com parcimônia.
. Qualquer coisa doce, mesmo o mel, era interditada, mas abusava-se do sal. Tudo era salgado: o gersal (tempero à base de gergelim moído com sal), shoyu (molho de soja salgado), missô (pasta de soja salgada). Até no chá recomendava-se dissolver uma ameixa umeboshi salgada. Isso associado à restrição quase total de água, comprometia seriamente os rins.
. O prato era constituído por arroz integral cozido com pouquíssima água, o que o tornava duro (quanto mais duro, melhor, ficava “mais yang”). Sobre o arroz, colocava-se um pouco de gersal e de tempero verde. Acompanhava um outro prato denominado secundário, constituído por legumes cozidos com shoyu, o que os deixava marrons. Mesmo assim, eram uma delícia se comparados com o arroz. Mas não permitiam que se comesse demais o secundário, pois havia uma proporção rígida que devia ser obedecida à risca. Se você pusesse um pouco mais de gersal ou se usasse shoyu no arroz era repreendido publicamente pelo dono do restaurante. Conversar durante as refeições estava proibido. Isso não acontecia em um ou outro, mas em todos os estabelecimentos. Nos restaurantes de algumas associações macrobióticas, enquanto as pessoas comiam, o presidente da entidade ficava dando instruções de mastigação e de combinação de alimentos pelo alto-falante, bem como descrevendo algumas doenças (imagine, você comer escutando falar de doenças!).
. A macrobiótica compreende sete graus de radicalização: os regimes um, dois, três, etc., até sete. Mais tarde, como muita gente não conseguia cumprir nem o regime um, foram acrescentados os regimes menos um, menos dois e menos três, caso contrário os restaurantes, as lojas e as indústrias que viviam desse comércio não sobreviveriam. O regime menos três é, praticamente, a alimentação comum. No entanto, Segundo Oshawa, macrobiótica é o regime sete. Os demais são apenas estágios de adaptação para atingir a macrobiótica. O regime sete é 100% cereais. Esses cereais podem ser arroz, trigo, cevada, centeio, etc.
Felizmente, isso foi no passado… Hoje, o que as pessoas conhecem é algo totalmente diferente daquilo que Sakurazawa Nyoiti denominou tyori-dô, ou macrobiótica. Creio que as mudanças deveram-se ao fato de que a macrobiótica não gerou nenhum macróbio e todos morreram relativamente cedo ou abandonaram o regime, que era uma tortura..
Bem, estamos falando da macrobiótica verdadeira, aquela que era praticada quando seu codificador estava vivo e nos primeiros anos após sua morte. Virou moda e transformou-se numa praga na década de 70. Mais ou menos a partir da década de 80 do século XX observou-se um desnaturamento daqueles princípios que foram considerados, por uns, muito difíceis de se seguir; por outros, incorretos. O fato é que hoje o que se conhece como macrobiótica é algo bem mais palatável que se aproxima um pouco do vegetarianismo.
Vegetarianismo
Boa parte da humanidade descobriu que comer carnes não era saudável e eliminou-as da sua mesa,. Hoje contam-se cerca de DOIS BILHÕES DE VEGETARIANOS NO MUNDO. Mais de um bilhão é constituído pelos hindus. Além deles, contabilizamos os adventistas, os praticantes sinceros de Yôga do mundo todo e os simplesmente vegetarianos das diversas vertentes.
Quando falamos em vegetarianismo poderemos englobar os vegetarianos (lacto-ovo-vegetarianos), os vegetalianos (lacto-vegetarianos) e os vegetaristas (vegetarianos puros ou vegans). Esta é uma das nonomenclaturas usadas. Contudo, não há consenso. Na Índia, por exemplo, vegetarianos são os lacto-vegetarianso.
Afinal, essas três vertentes são primas entre si. O princípio básico é não ingerir carnes de nenhuma natureza e de nenhuma cor. Isso de intitular-se vegetariano só por não comer carne vermelha, mas ingerir carne branca, é hipocrisia.
Quando alguém declarar que é vegetariano, mas come carne de peixe, diga-lhe que não é vegetariano. Isso tem outro nome. Como é mesmo…? Começa com um radical grego. Macrós… Não. Hipós… Isso! Hipo, hipo… hipócrita!
As diferenças entre as três correntes acima são as seguintes:
. Vegetarianismo aceita ovos e laticínios, além de 15.000 variedades de legumes, cereais, raízes, hortaliças, frutas, castanhas, massas, etc.
. Vegetarianismo não aceita ovos. No restante, não há diferença.
. Vegetarismo não aceita os ovos nem os laticínios. Só vegetais.
Será que pode haver algo ainda mais radical do que o vegetarianismo? Sim, o naturismo.
Naturismo
O naturismo ou crudivorismo propõe comer os alimentos assim como a natureza os produz, ou seja, não desnaturar a comida antes de ingeri-la. A pior forma de desnaturamento é pelo cozimento. Ao cozinhar, destruímos as vitaminas, os sais minerais são decantados e o prána se evola. O alimento fica sem vitalidade.
A quantidade de nutrientes que se encontram numa folha de alface crua, só seria obtida com mil folhas de alface cozida. O resultado de uma tal alimentação seria um gasto superlativo de energia para mastigar, insalivar, digerir, assimilar, eliminar e, em troca, obter uma quantidade minima de nutrição. Uma enorme quantidade de alimento teria que ser processada pelo organismo. Conclusão: obesidade.
Mas, seria possivel comer legumes ou cereais crus? Sem dúvida. Você já não degustou um couvert de cenouras cruas no seu restaurant predileto? Já não se deliciou com o tabule, salada de trigo cru, no seu restaurante árabe? No entanto, ao comer coisas cruas, lembre-se de lavá-las muito bem e deixá-las de molho numa salmoura com limão. Depois retire o sal e tempere a gosto.
Os naturistas estão com a razão: os alimentos crus são mais nutritivos e contêm mais vitalidade. Porém, depois de tantos milênios cozinhando nossos alimentos, sentimos falta do cozimento e esse regime pode nos deixar deficientes, não no aspecto estritamente nutricional, mas no emocional. Um dia você vai sentir falta de comida quente. É que a comidinha quente tem para nós o simbolismo do carinho e aconchego da mamãe nos trazendo a refeição. Quando sentir essa carência, faça um prato cru, mas quente. Por exemplo, a sopa crua.
Sopa crua
Esta receita não serve para o naturista radical, mas pode ser usada como concessão pelo naturista mais complacente. Bata no liquidificador alguns legumes crus. Tempere a gosto. Aqueça, mas não deixe cozinhar. Pronto. Aí está uma sopinha crua e quente.
Na verdade, o naturismo não aceitaria alterar o equilíbrio de sais minerais, acrescentando sal de cozinha. Nem admitiria incrementar o sabor com azeite ou com outros temperos menos naturais, que tivessem exigido idustrialização ou acréscimo de conservantes.
Será que há algum sistema ainda mais estrito que o naturismo? Existe, sim, o frugivorismo.
Frugivorismo
No frugivorismo, além de se comer tudo cru, sem desnaturar os alimentos, excluem-se todos os legumes, cereais, hortaliças, raízes, castanhas, tudo enfim que não seja fruta. Também não se acrescenta sal nem açucar, é claro!
Com isso, fechamos o círculo e voltamos às origens. Frutas são o alimento natural do ser humano. A melhor demonstração disso é a seguinte experiência: coloque na mesa uma variedade de carnes, peixes, aves, moluscos, legumes, raízes, verduras, ovos – tudo cru. Peça aos presentes que escolham apenas um desses produtos e o coma cru, sem acrescentar nenhum tempero. Provavelmente, a totalidade das pessoas postas à prova rejeitarão com nojo todos esses ingredientes.
Em seguida, à mesma mesa, juntamente com as carnes, peixes, aves, moluscos, legumes, raízes, verduras e ovos, acrescente uma seleção de frutas e repita a solicitação. Todos, sem exceção, escolherão alguma fruta. Isso prova o quê? Prova que o único alimento que em estado natural ingerimos com satisfação são as frutas. Logo, essa é a alimentação para a qual fomos projetados.
Instintivamente, quando alguém está doente, levamo-lhe algumas frutas. Sabemos, inconscientemente, que as frutas têm poder curativo por não estar agredindo a nossa natureza.
Seria possível viver só com frutas? Mesmo trabalhando duro e praticando esportes? Claro que sim. Afinal os macacos não vivem fazendo exercícios? Por outro lado, devo advertir para o fato de que a transição de uma alimentação comum para o frugivorismo deve ser extremamente gradual e a maior parte das pessoas precisará de muita disciplina na gradação meticulosa. Calculo que do vegetarianismo para o frugivorismo, um tempo prudente de transição gradativa seria de 5 anos. Do omnivorismo com carnes para o frugivorismo, nunca menos de 10 anos de progressão. Ainda assim, se notar que está perdendo massa muscular ou que está ficando fraco, feio, mirrado, deprimido ou caladão, interrompa a experiência. Qualquer tentativa de seguir regimes mais radicais deve ser acompanhada por hemogramas e lipidogramas completos periódicos, e avaliação de um medico inteligente.
Qual é o melhor sistema alimentar para o Yôga
Para a prática do Yôga, o melhor sistema alimentar é o lacto-vegetarianismo. É o que vem sendo utilizado tradicionalmente na Índia há milênios. Mesmo se assim não fosse, tem provado ser o sistema ideal para o Swásthya Yôga.